10 de janeiro de 2010

Espiritismo, Direitos Autorais e Publicação Eletrônica

O estabelecimento da Internet como meio de publicação e divulgação de informações vem causando grandes discussões a respeito do tema dos direitos autorais. Em se tratando da Doutrina Espírita, o tema tem uma dimensão especial.

A publicação dos livros espíritas é peça fundamental na forma como a Doutrina se estabeleceu, principalmente no Brasil. As obras impressas são sem dúvida a principal porta de entrada para novos adeptos, pessoas que muitas vezes adquirem um livro espírita por curiosidade, e que depois se aprofundam no tema adquirindo outros livros em sequência. Além disso, a receita proveniente da edição destas obras é importante para a sustentação da atividade de diversos núcleos. É uma forma válida de doação, à qual já está associado todo um sistema de operação, que envolve ainda as editoras e núcleos espíritas. Há pessoas que não se sentem confortáveis com a extensão que esta indústria alcança; independente destas opiniões, porém, há que lembrar que a indústria hoje existente já prestou, e continua prestando, serviços relevantes para a comunidade espírita brasileira. Sendo assim, este não será o foco da discussão atual

Um fato, porém, paira sobre toda esta questão: o sistema atual não se presta bem a uma exploração total das potencialidades da Internet como mídia. Livros eletrônicos são notoriamente fáceis de copiar, sem que o autor, ou o detentor dos direitos autorais, receba alguma coisa por isso. Assim, independente das motivações pelas quais a publicação impressa venha sendo feita, há uma barreira econômica significativa para a adoção da Internet como mídia de divulgação e estudo da Doutrina Espírita.

Pessoalmente, acredito que a Internet permitiria um contato mais rico com a obra espírita. Seria possível elaborar cursos interativos, por exemplo, uma discussão da obra de André Luiz, apontando links relevantes entre os diverentes textos, e com comentários feitos por autores reconhecidos. Os livros de referência poderiam ser disponibilizados em hipertexto, em versões de fácil consulta. Relatos específicos poderiam ser colecionados e indexados para pesquisa rápida. Tudo isso pode ser feito, de forma totalmente voluntária e colaborativa, usando para isso não apenas os recursos técnicos da rede, mas também a sua estrutura social, que foge de todos os parâmetros tradicionais.

Finalmente, resta um ponto frequentemente lembrado, a este respeito, que é a credibilidade (ou a possível 'falseabilidade') das informações disponíveis na Internet. Pois bem. Não há nenhum segmento mais zeloso quanto à credibilidade (pelo menos neste mundo) do que as instituições financeiras, e elas estão todas usando a Internet, assim como inúmeros jornais e revistas. O problema da credibilidade pode ser resolvido e atacado de inúmeras formas, seja através da tecnologia, seja através da divulgação. E mais importante: a ausência de informações claras da Doutrina Espírita na Internet abre sim, espaço para que outros tipos de informação, ou 'desinformação', sejam espalhados pela rede. Este é um risco muito maior do que qualquer outro que possa ser assumido através da livre publicação do material espírita.